
Apreciar Todos os Ingredientes
Por em prática a beleza sistémica da floresta, assegurando que os alimentos não ingeridos possam ser integrados em processos de regeneração

Factos e Números
Sabias que o projeto Fruta Feia previne que mais de duas toneladas de fruta por ano sejam descartadas, apenas por causa da sua aparência? Este projeto faz com que a fruta imperfeita de quase 250 produtores seja distribuída para quase 6.000 consumidores no país inteiro.
Sabias que o projeto Fruta Feia previne que mais de duas toneladas de fruta por ano sejam descartadas, apenas por causa da sua aparência? Este projeto faz com que a fruta imperfeita de quase 250 produtores seja distribuída para quase 6.000 consumidores no país inteiro.
Ficamos na dúvida sobre qual sistema será o mais evoluído – a floresta, na qual não existe desperdício nenhum, e a regeneração é contínua ou a indústria e outros processos produtivos, onde existe desperdício infindável. Sabendo que o nosso sistema alimentar está atualmente mais em linha com uma indústria do que com uma floresta, propomos investir nessa mudança sistémica.
- Como podemos assegurar o acesso a alimentos saudáveis e em boas condições de higiene sem recorrermos a plástico descartável?
- Como podemos aceder a todos os nossos alimentos localmente?
- Como podemos assegurar que os alimentos chegam a nós com frescura?
- Uma vez que chegaram a nós, como podemos assegurar que os alimentos frescos são aproveitados na totalidade?
- Como podemos assegurar que todos os nutrientes não ingeridos (nos talos, nas cascas…) possam voltar a enriquecer o solo que os criou?
Fechar o ciclo dos alimentos é um desafio urgente a abordar e resolver!

contas

O LIXO COMO MOEDA
Um hotel nas Ilhas Baleares servia exclusivamente alimentos orgânicos aos seus hóspedes. No entanto, a produção e a oferta não eram tarefa fácil, pois a falta de matéria orgânica nos solos dificultava o crescimento dos vegetais.
Produzindo o hotel uma quantidade satisfatória de composto ao tratar os seus resíduos de forma sustentável e orgânica acordou com os agricultores locais trocar este material por vegetais por eles produzidos. Esta transação foi direta e não envolveu dinheiro.

ECOLOGIA NA COZINHA
O nosso fígado age continuamente como um filtro para eliminar ingredientes tóxicos presentes nos alimentos que ingerimos. Um dos processos mais eficazes para apoiar este trabalho do nosso fígado é recorrer a um programa de ingestão de sumos verdes (juicing) por um período de 3 a 10 dias. Estes sumos proporcionam ao nosso intestino um repouso, dado que há uma redução da quantidade de fibras que ingerimos. Este programa inclui a introdução de probióticos na nossa alimentação que permitem restabelecer o equilíbrio dos microrganismos da nossa flora intestinal. No processo de produção destes sumos encontramos como subproduto todas a fibra presente nas folhas, caules e raízes das plantas orgânicas utilizadas. Grande parte desta matéria pode tornar-se preciosa como ingrediente principal na confecção de saborosos “hambúrgueres vegetarianos”.
Este processo para além de ecológico pode ser divertido. É bom tirar prazer no processo de seleção do tipo e quantidade de cada um dos vegetais (beterraba, cenoura, espinafre e outras folhas verdes…) que queremos juntar aos nossos “hambúrgueres vegetarianos” e neste processo descobrir novos sabores e paladares. Basta misturá-los com ovos ou com sementes de linhaça, adicionar temperos, ervas, alho, farinha de coco e casca de psyllium, fritar rapidamente em óleo de abacate, o resultado é delicioso!

CHEFS RETRIBUEM EM TEMPOS DE CRISE
O ano de 2020 ficou na história indubitavelmente como um tempo de crise devido a pandemia COVID 19. Nessa altura os setores da Alimentação e do Turismo foram colocados subitamente perante um teste de resiliência e de cidadania. Alguns abraçaram esse momento como uma oportunidade de servir no seu domínio e fazer disso missão.
Com a declaração da pandemia, muitos restaurantes e pequenas organizações começaram imediatamente a trabalhar na entrega de alimentos aos trabalhadores da linha de frente, como foram exemplo os trabalhadores hospitalares e, conforme as redes sociais começaram a comunicar essas iniciativas, muitas mais ações iniciaram. A maneira como esse fenômeno de dádiva começou e como essas pequenas organizações se envolveram e se tornaram efetivas foi surpreendente e permitiu testar a economia da troca e da dádiva em contextos alargados.
A Food for Heroes foi uma destas plataformas, construída por iniciativa de seis restaurantes de Lisboa que se juntaram para, de forma voluntária, servir almoços e jantares a profissionais de saúde. Qualquer hospital teve acesso à Food for Heroes.
No Algarve o Chefe Rui Silvestre lançou o Alimentar a Saúde para ajudar quem mais precisava. No Porto, vários chefes também se juntaram para preparar refeições para entregar a quem não tinha acesso a alimentos.
O “take away” floresceu e as iniciativas individuais rapidamente se tornaram redes e plataformas de resposta.
Foi um imparável movimento que se preocupa com alimentar em tempo de crise reconhecendo que alimentar convoca todos. “Chefs”, proprietários de hotéis e restaurantes e outras pessoas deste setor estão a iniciar um movimento que pretende devolver o sentido de serviço, de cuidar, à “hospitalidade – palavra cujas origens significava cuidar “.

DEVOLVER À TERRA MÃE
A alimentação tem impacto sobre todos os aspectos das nossas vidas: económico, social e ambiental e todos nós desempenhamos um papel fundamental com as escolhas que fazemos e na relação com o mundo em que vivemos.
Felizmente, com acesso a informação, tornamo-nos mais conscientes em relação ao desrespeito pelo meio ambiente, em relação à industrialização da alimentação e, consequentemente, à superprodução de embalagens e a todo o desperdício gerado por hábitos que nem contemplam a saúde humana nem a planetária.
Sabemos o quanto de desperdício produzimos, pelas quantidades de embalagens que separamos diariamente nas nossas casas e ao mantermos uma relação pouco crítica com as nossas escolhas acabamos por descuidar a vitalidade de incorporar estratégias saudáveis de reduzir e rejeitar o tanto de alimentos que vêm convenientemente embalados e pré confecionados, mas que pouco ou nada de vida, de nutrientes, de luz, contêm.
Não podemos deixar de lembrar que o desperdício gerado por esta prática é quase todo adubo para fertilizar os solos e assim devolver à terra o que não nos serve mais, mas em vez de plástico, é nutrição e alimento que lhe devolvemos e que ela própria consegue reciclar. Esse retorno, esse encantamento, essa empatia com os processos naturais é lindo demais e resgata essa conexão perdida pelas vidas vividas demasiado depressa.
Comprar alimentos “a granel” e guardar tudo que sobre de vegetal e cru para depositar no sistema de compostagem urbana, ou no composto de um agricultor vizinho, são atos fundamentais que precisamos de incorporar no nosso dia a dia!