
Respeitar a Origem dos Alimentos
Conhecer e respeitar a origem de todos os ingredientes permite-nos fazer escolhas conscientes

Factos e Números
Sabias que Portugal é o principal produtor (26% da produção mundial) do super alimento alfarroba? A alfarroba tem um sabor semelhante ao chocolate, não contém gordura, é isento de glúten, e tem um elevado nível de antioxidantes e fibras. A alfarroba suporta a saúde do coração e do sistema nervoso, e melhora a função muscular. Em Portugal planta-se e consome-se alfarroba desde os tempos em que os Mouros habitavam nesta península.
Desde sempre que nos alimentamos com plantas muito diversas e que confeccionamos pratos de maneiras muito diferentes, sempre recorrendo a nossa criatividade para nos facultar novas experiências.
Conhecer e respeitar a origem de todos os ingredientes que ingerimos (ou como algumas pessoas dizem: a biografia dos alimentos) permite-nos fazer escolhas conscientes e assumir responsabilidade pela nossa própria saúde e bem-estar.
Quando vamos às compras, é importante obter respostas em relação às seguintes perguntas:
- Este alimento está vivo e repleto de nutrientes que conseguimos assimilar?
- Este ingrediente é bio / orgânico ou sintrópico (produzido em condições equilibradas, sem ser exposto a químicos como pesticidas e herbicidas)?
- A produção deste alimento contribui para a regeneração do solo?
- A produção deste alimento contribui para a gestão sustentável da água?
- Este alimento tem uma etiqueta claramente legível que comunica claramente a informação sobre a respectiva origem?

contas

COMIDA COMO CURA
Joana viveu a sua adolescência sem uma borbulha na pele. Repentinamente, aos 23 anos, em todo o seu corpo e rosto apareceram manchas e borbulhas. Consultou 3 dermatologistas diferentes, fez todos os exames que lhe receitaram, recorreu a diversos medicamentos mas nada parecia ajudar.
Um dia, quando perguntou ao terceiro dermatologista “Existe alguma explicação para o que me está a acontecer?”, o médico respondeu “É a vida, querida… Algumas pessoas têm problemas de pele, outras não. Algumas têm problemas mais tarde na vida, outras mais cedo. Algumas têm sintomas mais graves, outros menos. Não sabemos mesmo porque é que isto acontece”.
Nesse momento, a Joana decidiu tentar algo diferente: A medicina chinesa. O médico chinês disse-lhe: “O teu maior problema é que comes muito mal e o teu corpo já não aguenta esta alimentação”. Tens um baço preguiçoso que não te limpa o sangue de todas as coisas más que comes e é por isso que tens borbulhas.
“A sério? É isso?!”
Após apenas 1 mês de acupunctura, fitoterapia e uma mudança nos seus hábitos alimentares, a Joana estava “sem borbulhas”. Ela percebeu então que há muitas pessoas que não sabem viver de modo saudável, que não têm acesso a alimentos saudáveis e que não sabem a quem pedir conselhos.
Estes conhecimentos motivaram Joana a desenvolver e lançar a cadeia de restaurantes The Therapist em 2017 (7 anos depois) com a sua primeira localização no LxFactory – Lisboa.

PLANTAR ÁGUA
Ernst Götsch, Suíço, estudou e trabalhou, em diversos países, focando-se na área do aperfeiçoamento genético. Nos anos 80 decidiu ir viver para o Brasil e tornou-se agricultor e investigador de métodos de cultivo simultaneamente ancestrais e inovadores.
Comprou uma parcela de terreno barata, e deu-lhe um nome assustador: Fazenda da Terra Seca. Uma área de 500 hectares que tinha sido desflorestada com o objetivo de cultivar mandioca de forma intensiva e de produção de porcos e que foi abandonada devido à falta de água.
Nessa Fazenda Götsch começou a experimentar várias técnicas que resultaram no desenvolvimento de um novo processo de cultivo designado agricultura sintrópica, ou agrofloresta de sucessão. Esta nova técnica demonstrou alta produtividade para uma grande variedade de espécies de plantas, especialmente cacau e banana.
Atualmente. Gotsch é responsável pela produção de um dos melhores cacaus do mundo. Ele é assim capaz de alimentar toda a sua família e tirar rendimento da terra.
Gotsch também reflorestou 410 hectares da sua terra, permitindo que a Mata Atlântica ressurgisse na área, recuperando a biodiversidade ao nível da flora e fauna que as caracterizam. Desde então ressurgiram 14 nascentes de água neste terreno, o que motivou Gotsch alterar o nome para “Fazenda dos Olhos d’Água”.

A TERRA E A PAZ
Há uns anos recebi uma mensagem de correio eletrónico de um professor universitário indiano com a seguinte questão: “Acredita que a violência urbana tem origem na degradação do solo? Gostava muito de conhecer a sua opinião”. Pergunta estranha – pensei eu –, estes indianos meditam demais e chegam depois a conclusões bizarras.
No entanto, a pergunta não me saía da cabeça: o solo degradado está doente, e solo doente somente pode criar plantas deficientes, ou seja, doentes. E plantas doentes tornam-se produtos de um valor biológico muito baixo, por isso são atacados por tantas pragas e doenças, necessitando de aplicação de muitos corretivos.
Na exploração de vinhas nas margens do Rio São Francisco, é habitual serem feitas 120 pulverizações de pesticidas verificando-se em algumas delas um quantitativo de 140 pulverizações aplicadas frequentemente uma ou duas vezes ao dia. As plantas doentes apenas fornecem alimentos incompletos e as pessoas que as ingerem também ficam doentes, não só fisica como psicologicamente. Estas pessoas frequentemente caem em depressão, ou em situações extremas tornam-se violentas. Resumindo a história, a presença de elementos estranhos e instáveis para o nosso organismo pode influenciar severamente a nossa personalidade.
Após muito pensar sobre a questão, ficou claro para mim que a resposta será: “Sim, é possível que a violência urbana tenha as suas raízes na degradação dos solos” – sobretudo porque estarmos malnutridos e desequilibrados afeta os nossos comportamentos.
Resulta outra questão, esta será para todos nós:
“Como podemos todos contribuir para regenerar os solos urbanos e assim minimizar a violência urbana?”

VISITA A UM JARDIM MEDITERRÂNEO DE HONRA
Cheguei a Marraquexe, com o meu coração a bater bem forte, a sorrir, como acontece quando se vê um ser querido, há muito perdido. Sou apaixonado por Marrocos. É singular, diferente de qualquer outro lugar onde eu alguma vez estive. As paredes de adobe rosa adornadas de roseiras e rodeadas de laranjeiras transmitem-me um generoso abraço de boas vindas.
A antiga medina com o seu estilo bohemian chic acolhe-me com hospitalidade e calor, relaxando-me instantaneamente. O apelo à oração cinco vezes por dia chama a atenção para o mundo da crença, que na primavera se funde no ar juntamente com o cheiro de jasmim e com as flores de laranjeira.
A nossa viagem começa na Jnane Tamsna, uma das mais bonitas casas de hóspedes da Palmerie de Marraquexe. Sentirmo-nos logo em casa, pois o lugar não só é agradável ao olhar, mas também para o espírito. O estilo acolhedor de Meryanne Loum Martin cria uma atmosfera agradável que nos traz tranquilidade. Desfrutar da paisagem dos jardins etnobotonistas de Gary Martin repletos de oliveiras, laranjeiras, limoeiros, suculentas, ervas aromáticas, legumes, raízes, espargos, alcachofra, erva príncipe e frutos de outrora esquecidos é outro dos motivos da nossa visita.
Um jardim de honra. Sentados para almoçar no meio deste paraíso, são-nos servidos pratos aromáticos que parecem desafiar ainda mais os nossos sentidos: pratos tradicionais simples, outros requintados como a tagine de borrego e figo, o couscous de cevada com sete legumes, a pastilla, e as peras kefta e ras al hanout puxam-nos para a tradição do local, de nos alimentarmos com as nossas mãos, e desta forma consigamos tirar partido dos sabores genuínos que estas maravilhas nos proporcionam. O sol aquece e somos transportados para um passado longínquo.
Estamos longe e esse é o propósito desta viagem. Descobrir uma terra nova e reunir alguns conhecimentos tangíveis para guardar connosco após o regresso a casa. Um local que não só nos oferece gostos requintados em todos os sentidos, mas também uma cultura que tem a sua raiz no coração dos berberes indígenas.
(Se gostares de ter acesso a mais perspectivas sobre a cultura alimentar mediterrânea visita o site da Peggy Markel)